Industrialização da agricultura: transformação estrutural e a cultura da cana-de-açúcar em São Paulo
Este artigo estuda a rápida adoção da colheita mecanizada na indústria da cana-de-açúcar em São Paulo entre 2000 e 2010, após a promulgação de uma lei que proibiu a queima da palha antes da colheita. Utilizando a inclinação do terreno como instrumento para a mecanização, constatou-se que a mecanização desencadeou uma transformação estrutural — reduzindo o emprego na agricultura e aumentando o emprego na indústria. No entanto, essa realocação de trabalho ocorreu apenas em setores industriais ligados à agricultura, e não de forma ampla entre diferentes setores. Um aumento de um desvio padrão na mecanização elevou o emprego na indústria vinculada à agricultura em 3,5 pontos percentuais, principalmente entre trabalhadores não qualificados. Essa mudança gerou ganhos econômicos locais substanciais: a renda domiciliar aumentou 19% e a pobreza caiu 14%. Esses resultados desafiam a visão tradicional de transformação estrutural como uma transição da agricultura para uma diversidade de indústrias. Em vez disso, os avanços tecnológicos na agricultura fortalecem os vínculos setoriais, aprofundando a economia agroindustrial em vez de diversificá-la. Os achados também destacam como a regulação ambiental pode moldar a industrialização ao impulsionar a realocação setorial da força de trabalho.
Pesquisador: Francisco Costa
EPGE Escola Brasileira de Economia e Finanças (FGV EPGE)