Análise do Ciclo de Vida e Custo Total Para o Proprietário Entre VEB e VMCI de Gasolina, Diesel e Etanol
A transição de veículos movidos a gasolina para veículos elétricos exige avaliações precisas das emissões de gases de efeito estufa ao longo de todo o ciclo de vida dos veículos. A dissertação apresentada acima baseia-se em estudos científicos que comparam veículos a gasolina (VMCIs) com veículos elétricos (VEBs), e incorpora o etanol na comparação – um combustível renovável cujas emissões são substancialmente inferiores às da gasolina – para demonstrar que tal transição pode não ser necessária, uma vez que veículos a etanol podem emitir menos gases do efeito estuda que seus equivalentes elétricos, dado que existe grande emissão destes gases associadas a geração de energia elétrica. Um veículo elétrico é tão limpo (ou sujo) quanto a matriz elétrica do pais onde ele é utilizado. Dado que existem países cujas matrizes elétricas utilizam matérias primas muito poluentes como carvão ou gás para a geração de energia elétrica, a análise das emissões de gases do efeito estufa de um veículo elétrico deve necessariamente se estender para as matrizes elétricas de cada país onde o veículo for utilizado.
Os veículos flex, capazes de operar com qualquer proporção de gasolina e etanol, permitem uma equiparação bastante acurada entre os modelos a gasolina puros utilizados nos estudos com seus equivalentes flex operando exclusivamente a etanol. Dessa forma, torna-se viável comparar os veículos elétricos analisados com veículos a etanol. No Brasil, a tecnologia flex domina o mercado de veículos leves e de passeio, com o etanol correspondendo a metade do consumo de combustível nestes veículos.
O Brasil ocupa posição privilegiada neste tópico dado que possui produção expressiva de etanol a partir da cana-de-açúcar e disponibilidade ampla de terras cultiváveis para expandir a produção. Tal expansão possibilitaria a substituição completa do consumo interno de gasolina por etanol e ainda possibilitaria a exportação de etanol para outros países, ajudando-os a atingir suas metas de redução de emissões de gases do efeito estufa no setor de transportes, que hoje representam 25% do total global. Além disso, o aumento das exportações do setor agropecuário, promoveria saldos positivos na balança comercial brasileira.
Em relação ao cultivo da cana, as emissões iniciais decorrentes da remoção da vegetação nativa e dos processos de produção do etanol podem ser compensadas ao se evitar as emissões dos gases do efeito pelo não uso da gasolina (substituída pelo etanol), permitindo a recuperação gradual do carbono emitido ao longo do tempo, conforme detalhado na dissertação. Além disso, estudos como "Comportamento de Diferentes Sistemas de Manejo como Fonte ou Depósito de Carbono em Relação à Vegetação de Cerrado", de E. J. Corazza, J. E. Silva, D. V. S. Resck e A. C. Gomes, indicam que a vegetação do Cerrado – predominante no Nordeste – podem aumentar sua densidade de carbono com plantio direto de certas culturas, de modo que o cultivo de cana nesse bioma poderia promover, não emissão, mas captura de carbono da atmosfera, atuando como sumidouro líquido em vez de fonte de emissões por desmatamento isolado.
A expansão da produção de etanol brasileiro para uso interno e exportação para outros países ajudaria a reduzir as emissões globais no setor automotivo sem o custo de eletrificar frotas inteiras de veículos. Dado que o Cerrado do Nordeste pode ser utilizado para expansão agrícola com reduzido potencial de emissões devido ao uso da terra, políticas que promovam a produção de etanol na região – uma das mais carentes do Brasil – por meio da agricultura familiar e da monocultura, aumentaria a renda das famílias da região, com notável contribuição mundial para se atingir as metas de redução de emissões do Acordo de Paris.
Escola de Políticas Públicas e Governo (FGV EPPG)
Pesquisadores: Matheus Costa e Leonardo Vicente Evaldt da Silva